A Doutrina Espírita é uma corrente de pensamento — nascida em meados do século XIX — que se estruturou a partir de diálogos estabelecidos entre o pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail (que adotou o pseudônimo Allan Kardec) e o que ele e muitos pesquisadores da época defendiam tratarem-se de espíritos de pessoas falecidas, a manifestarem-se através de diversos médiuns.
Caracteriza-se pelo ideal de compreensão da realidade mediante a integração entre as três formas consideradas clássicas de conhecimento, que seriam a ciência, a filosofia e a religião. Segundo Rivail, cada uma delas, se tomada isoladamente, tenderia a conduzir a excessos de ceticismo, negação ou fanatismo. A doutrina espírita se propõe, assim, a estabelecer um diálogo entre elas, visando à obtenção de uma forma original, que a um só tempo fosse mais abrangente e profunda, de compreender a realidade.
A sua base doutrinária é o Livro dos Espíritos, primeira das chamadas obras básicas escritas por Rivail, usando o pseudônimo Allan Kardec. Nesse livro, consta o resultado preliminar dos diálogos estabelecidos por ele em diversas reuniões mediúnicas com o que seriam espíritos "desencarnados". A obra é dividida em 1018 tópicos no estilo pergunta–resposta, ordenados didaticamente pelo pedagogo. As questões levantadas em O Livro dos Espíritos serviram como base para os demais livros que compõem a Codificação espírita.
Segundo muitos de seus estudiosos, a doutrina espírita é cristã, apesar das concepções teológicas bem diferenciadas no que diz respeito a conceitos como divindade, natureza humana, salvação, graça e destino. Para eles, Jesus Cristo é o espírito mais elevado que conhecemos em toda a história da Terra, bem como o modelo de conduta para o auto-aperfeiçoamento humano e que provou, através da caridade absoluta e da encarnação, que o homem pode suportar a provação.
CONTEXTO HISTÓRICO
Durante o século XIX houve uma grande onda de manifestações mediúnicas nos Estados Unidos e na Europa. Estas manifestações consistiam principalmente de ruídos estranhos, pancadas em móveis e objetos que se moviam ou flutuavam sem nenhuma causa aparente. Entre eles destacou-se o caso das Irmãs Fox, nos EUA.
As irmãs Fox. Da esquerda para a direita: Margaret, Kate e Leah.
Em 1855, o professor Denizard Rivail, que depois adotou o pseudônimo de Allan Kardec, lançou-se à investigação do fenômeno, bastante comum à época, das mesas girantes ou dança das mesas, em que mesas e objetos em geral pareciam animar-se de uma estranha vitalidade. Inicialmente cético, chegou a afirmar: "Eu crerei quando vir e quando conseguirem provar-me que uma mesa dispõe de cérebro e nervos, e que pode se tornar sonâmbula; até que isso se dê, dêem-me a permissão de não enxergar nisso mais que um conto para dormir em pé". Após dois anos de pesquisas, não viu constatação de fraudes e nem um motivo para englobar todos os acontecimentos dessa ordem no âmbito das falácias e/ou charlatanices. Pessoalmente convencido não só da realidade do fenômeno, que considerou essencialmente real apesar das mistificações existentes, mas também da possibilidade dele ser causado por espíritos, Rivail deu um passo adiante: em lugar de dedicar o resto de sua vida à busca por "provar cientificamente" a explicação mediúnica para os fenômenos, procurou extrair da possibilidade de que fossem causados pela ação de espíritos algo de útil para a humanidade.
A robusta formação humanística por que passara, bebendo diretamente de Pestalozzi, discípulo dileto de Rousseau, não poderia limitá-lo a uma pesquisa meramente naturalista. A necessidade de dar algum suporte à espiritualidade humana numa época em que a ciência avançava a passos largos e as religiões perdiam cada vez mais adeptos despertou em Kardec a idéia de um novo modo de pensar o real, que unisse, de forma ponderada, a ascendente Ciência e a decadente Religião, mediadas pela racionalidade filosófica. Assim, Kardec fez uso do empirismo científico para investigar os fenômenos, da racionalidade filosófica para dialogar com o que presumiu serem espíritos e analisar suas proposições, e buscou extrair desses diálogos conseqüências ético-morais úteis para o ser humano. Surgia aí, mais precisamente em 18 de abril de 1857, a doutrina espírita, sistematizada na primeira edição de O Livro dos Espíritos.
PRIMEIRAS OBSERVAÇÕES
Os fenômenos mediúnicos são universais e sempre existiram, inclusive fartamente relatados na Bíblia, mas os espíritas e muitos outros defensores da explicação mediúnica para os chamados "fenômenos sobrenaturais" ou "paranormais" adotam a data de 31 de março de 1848 como o marco inicial das modernas manifestações mediúnicas, alegadamente mais ostensivas e freqüentes do que jamais ocorrera, o que levou muitos pesquisadores a se debruçarem sobre tais fenômenos. Afirmam, contudo, que acontecimentos envolvendo espíritos (pessoas que já morreram) existem desde os primórdios da humanidade.
Entre outros, citam como exemplo os comentários de Platão ao falar sobre o dáimon ou gênio que acompanharia Sócrates; a proibição de Moisés à prática da "consulta aos mortos", que seria uma evidência da crença judaica nessa possibilidade, já que não se interdita algo irrealizável; e a comunicação de Jesus com Moisés e Elias no Monte Tabor, citada em Mt, 17, 1-9.
ESTUDO SOBRA AS MESAS GIRANTES
Segundo os biógrafos, Allan Kardec foi convidado por Fortier, um amigo estudioso das teorias de Mesmer, a verificar o fenômeno das mesas girantes com a disposição de observar e analisar os fenômenos que despertavam curiosidade no século XIX.
As primeiras manifestações tidas como mediúnicas aconteceram por meio de mesas se levantando e batendo, com um dos pés, um número determinado de pancadas e respondendo, desse modo, sim ou não, segundo fora convencionado, a uma questão proposta.
Kardec, em analisando esses fenômenos, concluiu que não havia nada de convincente neste método para os céticos, porque se podia acreditar num efeito da eletricidade, cujas propriedades eram pouco conhecidas pela ciência de então. Foram então utilizados métodos para se obter respostas mais desenvolvidas por meio das letras do alfabeto: o objeto móvel, batendo um número de vezes correspondenteria ao número de ordem de cada letra, chegando, assim, a formular palavras e frases respondendo às perguntas propostas.
Kardec concluiu que a precisão das respostas e sua correlação com a pergunta não poderiam ser atribuídas ao acaso. O ser misterioso que assim respondia, quando interrogado sobre sua natureza, declarou que era um espírito ou gênio, deu o seu nome e forneceu diversas informações a seu respeito.
Fonte: Wikepidia